Os não tão coitadinhos da pandemia.
- Igual Ao Resto
- 14 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de mar. de 2021
Os não tão coitadinhos da pandemia
Hoje no diário da noite: “Portugal continua como o pior país do mundo com 10 mil casos e 368 mortes...." STOP.
Acabaste de encontrar um sítio seguro onde não se fala dos devastadores números da Covid, da recessão económica que se avizinha, dos escândalos da vacinação ou das trafulhices da bazuca. Descansa um bocado. Como já deves ter percebido, felizmente estou vivo e de boa saúde ( por enquanto) para te poder fazer chorar com as memórias que ficaram por criar, com as festas de 18 que foram canceladas, com os golos que ficaram por festejar e, no meu caso muito particular, nas tampas que ficaram por levar. Sei que já estás tenso com cara séria a pensar “Este gajo é um inconsciente pá, pessoas a morrer e ele a lamentar-se porque não pode arrancar um banco do estádio de Alvalade a celebrar o golo do Matheus Nunes contra o Benfica e porque não pode acabar a sua festa de 18 nu em cima do Marquês de Pombal, ganha noções pá tamos numa pandemia foda-se.” Acalma-te, respira fundo, mete story do #staythefuckhome #blm com fundo cor-de-rosa, vai para a grande puta que te pariu e não me chateies.
Antes que me sejam lançadas as críticas já antecipadas no parágrafo anterior quero deixar claro que, tal como o título sugere, não sou coitadinho nenhum, apenas estou extremamente frustrado porque um vírus vindo da China me tirou aquilo que, muito sinceramente ,ia ser um ano do caralho. Espero que consigas perceber sem que te zangues muito comigo.
Olhando agora para o meu umbigo e para os outros belos umbigos que me rodeiam, a situação em que vivemos pode, do ponto vista sócio-económico, ser descrito como uma grande merda. Tiraram a um miúdo de 18 anos a simples possibilidade de se juntar com os seus amigos para celebrar qualquer coisa que seja é o equivalente a tirar as asas a um pássaro ou a tirar o bigode ao Hitler. É negar-lhe a sua natureza retirar-lhe a sua essência. Este ano ou dois ou três ou para sempre plantou dentro de nós deliquent... perdão, jovens ,uma pequena semente de frustração que, com o passar de cada dia, vai crescendo e crescendo e se vai tornando numa sombria escura e penosa árvore de raiva , que não tenho a mínima dúvida que nos irá acompanhar para sempre e que em alguns casos vai tomar proporções algo mais sérias. Espero que ninguém mais tenha que passar por isto pois, apesar de ser perfeitamente percetível o porquê de tudo isto nos ter sido roubado, não deixa de ser difícil de o aceitar. Sei que ,felizmente, não passei os meu 18 anos na Normandia a lutar pelo mundo livre e que o fiz com 5 amigos em casa, mas deixem que vos diga: amaldiçoada a circunstância que me faz sentir criminoso por estar com os meus amigos. Pronto, está dito a vida pode e provavelmente vai ser injusta ocasionalmente. Em segundo lugar, tenho que falar de aquilo que viemos a conhecer como “pandemia silenciosa” esta infinitamente mais séria e importante que os meus pequenos problemas de alcóolico, que não recebe talvez 1/4 da atenção que merece.
A solidão, os confinamentos e o efeito que estes têm na nossa saúde mental, o sofrimento daqueles que além de fechados em casa lutam uma batalha que muitas vezes se trata de vida e morte. Tenho a certeza que tu e eu durantes todos estes meses de confinamento já demos por nós tristes cabisbaixos e desmotivados a tentar ignorar pensamentos repletos das mensagens mais melancólicas e deprimentes, estes pensamentos que de forma parva tentamos afogar a ignorar devem, ao contrário do que fazemos, ser resolvidos juntos daqueles em que mais confiamos! Nesta nota, quero deixar aos poucos que me leem o desafio de perguntarem aos que vos rodeiam de uma forma um pouco mais profunda que o habitual “tudo bem?” se está mesmo tudo bem por detrás daquele muitas vezes falso sorriso que apresentam. Desculpem o desabafo. Deixem me ir à bola sefazfavor!
António Guedes de Sousa.
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