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Levem a amizade a sério.


Nunca pensei que chegasse a esta dimensão. Tudo aquilo que tomámos como absolutamente garantido é-nos tirado de cena e, como se nada fosse... estamos condicionados à desesperante solidão do pensamento humano.

Quando nos dizem para não tomarmos NADA por garantido, e acenamos com um arrogante ar de volta, temos tendência a pensar nos luxos, nos privilégios e nas ostentações da vida. Nunca na vida pensámos em não conseguir abraçar os nossos pais, ou a ver a cara dos nossos amigos. Quem diria que, num ápice, um inimigo invisível nos ia retirar tudo!

Na sequência deste pensamento, peço aos meus caros amigos que nunca na vida voltem a olhar para aquela simples noite de copos no Gervásio, ou aquele mergulho com sabor divino a água salgada no Malhão, como só mais um. Podemos não saber, mas aquele almoço no Mercado pode sempre ser o último! Imaginem-se um dia a olhar para trás, num profundo arrependimento, coberto pelo pó de uma fotografia emoldurada num qualquer canto da casa. E, talvez nada possamos fazer se não dar um pequeno riso sofrido, ao pensar em talvez ter dado aquele abraço com mais força ou ter saído da cama para encontrar um Bairro Alto vazio. E sorrir, porque apesar de não estar lá a rapariga X ou Y estamos junto dos nossos melhores amigos e não podíamos estar melhor. Tenho medo de talvez um dia no alto dos meus 80 anos ouvir o meu filho dizer “Olhe o pai e o tio Ricardo tão novos“, e chegar em esforço com a mão ao bolso para ligar ao meu querido amigo, para fumar um bom charuto e apenas chegar à dolorosa conclusão que ele já não está cá. Chegando à triste conclusão que aquelas épicas noites de “Edu Leitão” e aquelas discussões no “Asfalto” não passam de nada mais do que longínquas memórias, esvanecidas no tempo. E dizer “se eu soubesse “. Pois felizmente sei! Sei que tudo isto é passageiro. E é por isso exatamente que prometo a mim e aos meus amados amigos, pelos quais choro de saudade (literalmente) nunca mais dar a nossa amizade por garantida, e vivê-la da forma mais intensa e genuína que eu conseguir. Para poder ter o privilégio de olhar para trás e dizer que não deixei nem uma simples sílaba para trás. Levem a amizade a sério.

António Guedes de Sousa

 
 
 

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