Ergam as estátuas
- Igual Ao Resto
- 5 de dez. de 2020
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MENTIU! Sim, mentiu. Se alguma vez ouviram um poeta descansado a dizer que a sua paixão era a escrita e que se contentava simplesmente com a prática da mesma, peço desculpa informar, acabaram de ser redondamente enganados. Se um poeta vos disse que para ele bastava que um e somente um miúdo encontrasse significado na sua poesia para se sentir concretizado, ele mentiu. E não foi uma pequena e inofensiva mentira, foi uma daquelas berrantes mentiras que vemos todos os dias nos noticiários e que somos forçados a acreditar para que não nos chamem de malucos, cegos ou como está na moda “fascista” será que alguém me pode explicar o significado desta palavra? Ouço todos os dias na escola e na televisão e ainda não percebi do que se trata propriamente.
Peço desculpa, distraí-me, o que vos venho explicar hoje é que os poetas são mentirosos compulsivos, uma triste realidade que terá de ser desvendada eventualmente, e se não acreditam em mim (o que me parece extremamente razoável) vejam o que disse DEUS “o poeta é um fingidor” se ele o diz é porque se trata de uma verdade incontornável e absoluta. Os poetas ao acordarem colocam uma traiçoeira mascara e encenam perfeitamente até por volta das 23h o papel de um indivíduo são humilde e modesto que se contenta com a pureza das pequenas coisas e que de pouco ou nada precisa para ser feliz. Mais uma vez, ERRADO. Ninguém quer ser discreto; passar por entre os pingos da chuva e 100 anos depois ser descoberto como o pobre coitado que “estava muito à frente do seu tempo”.
Eis o que querem realmente os poetas; os poetas querem filas de perder a vista ; querem abraços de desconhecidos que os abraçam como um rapaz que abraça a sua própria mãe; querem ser aclamados; ser tidos em conta como génios; querem que professores de português inventem recursos expressivos nas suas rimas e que acreditem mesmo neles; querem que falem dos livros deles nos jornais e que os colunistas ressabiados falem mal, muito mal deles ; enquanto os verdadeiros peritos da literatura - as pessoas- se deliciam com os seus desabafos; querem uma rua em seu nome, uma casa-museu com vista para o Tejo; querem um verbo para eles; querem uma estátua gigante como aquelas que fazem para os ditadores e que seja tão monstruosa que quando olham para ela sejam capazes de por breves momentos se distraírem da insegurança e da tristeza que os assola. Aliás, é para isso que tudo serve na vida do poeta, uma momentânea distração da traumatizaste dor de pensar e da incapacidade de sentir.
Porque não pode o poeta ser mais um cordeiro contente com a ingenuidade da calúnia em que vivemos?
Na verdade, tudo o que o poeta deseja é paz interior, amor, e mais que tudo… BURRICE! Já estou a mentir outra vez.
Poderá o poeta ser feliz?
António Guedes de Sousa
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