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Ditadura do Tempo

Atualizado: 16 de nov. de 2020

Ditadura do Tempo.

Um silêncio ensurdecedor faz-se sentir no quarto. No quarto não, esse estremece com os cânticos de afeto vindos do andar de baixo. Na sua cabeça ecoa o silêncio desesperante, aquele ouvido por alguém que vê o tempo passar por si como um furacão que destrói tudo o que toca. Do fundo do quarto, um relógio ( tictac, tictac, foda-snenhum relógio faz este barulho) do andar de baixo continuam se a ouvir os gritos histéricos, 7! 6! 5! Berram todos naquela que se advinha a contagem decrescente mais solitária de toda a história da humanidade. O suor começa a escorrer-lhe lentamente pela testa, ainda sentado sobre o desconforto da sua cama o seu corpo treme e quanto mais alto os seus amigos gritam maior se torna o silêncio na sua cabeça, maior se torna o desespero. 3…2…1! 21 anos!! O coração acelera o suor e os nervos apoderam-se totalmente dele, ja não há nada a fazer. Cai para trás desamparado e afoga a sua cabeça na almofada. Então é a isto que chamam de frustração pensa para si próprio. Os amigos impacientes derrubam a porta do quarto e correm para o abraçar e congratular, aí está o “homem do momento” agrado a uma almofada pálido, fraco e com um ar derrotado. Encontra-se noutra realidade, podem-lhe dar todos os abraços do mundo, mas ele pura e simplesmente não esta lá.

Memórias emergem subitamente ao seu pensamento, o passado simples, a infância fácil e o secundário glorioso. Contudo nada podia fazer, o tempo fugia-lhe segundo após segundo por ente as suadas pontas dos seus dedos. O tempo é irrecuperável, pensava ele em completo sofrimento. Cada milésima que passava não iria voltar a ser vivida e cada uma por muito semelhante que parecesse era ligeiramente diferente. Isso assusta-o, a mudança está sempre em curso e demoraram exatamente 21 anos para ele se aperceber desse angustiante fenómeno. Tudo muda, mas tudo eventualmente se repete. E ele nada pode fazer para o evitar. O passado já não é nosso, o presente é tão fugaz e vago que não o conseguimos aproveitar e o futuro esse nunca o vamos conseguir controlar. Ele está preso na ditadura do tempo. A única que não vai cair aos pés de uma qualquer revolução. A única que nunca vai sucumbir à infelicidade dos seus servos. A ditadura que faz a URSS a Coreia do Norte ou qualquer regime comunista parecer um paraíso.

Ele controla-nos e contra isso nunca nos poderemos revoltar.

O tempo é dono e senhor.

Para onde é que será que nos vai levar?

António Guedes de Sousa.

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