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Talvez

Talvez o mundo seja de tal forma

irreal e quimérico

que eu viva não existindo,

como um peixe que

respira pelo rabo.

Talvez haja tantas palavras

que te queira dizer

mas que não posso,

como uma folha redigida

com o mais esplêndido poema,

virada de barriga para baixo e

atirada às chamas do inferno.

Talvez

(e só talvez)

porque a cor de burro quando

====f==o==g==e====

é imensurável,

como a distância entre

as ondas da maré vazia

e os astronautas da lua cheia;

entre meteoritos e

um café ilegal lá no Norte,

onde se servem caracóis

às seis da tarde.

Ou talvez

(e só talvez)

porque algumas cartas de amor

v-o-a-m como poças lamacentas num dia de sol,

em direção a cidades de vidro

abandonadas por

homens azuis que nunca lá viveram.

Talvez

(e só talvez)

estas palavras sejam

ARRASTADAS como pirilampos

numa linha de comboio,

fabricadas com a água imunda

de um poço

no fim do horizonte ——

usadas para alimentar

aldeias de lobos desdentados

e de sobreiros bravos

em desertos frios,

onde o sol e a lua se ocultam atrás de navios

que naufragam num mar calmo.


Tomás Castello Branco

1 comentário


mafarosil
19 de jun. de 2020

Acho muito imaginativo e fantástico como aplicas o contraditório!

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