Talvez
- Igual Ao Resto
- 17 de jun. de 2020
- 1 min de leitura
Talvez o mundo seja de tal forma
irreal e quimérico
que eu viva não existindo,
como um peixe que
respira pelo rabo.
Talvez haja tantas palavras
que te queira dizer
mas que não posso,
como uma folha redigida
com o mais esplêndido poema,
virada de barriga para baixo e
atirada às chamas do inferno.
Talvez
(e só talvez)
porque a cor de burro quando
====f==o==g==e====
é imensurável,
como a distância entre
as ondas da maré vazia
e os astronautas da lua cheia;
entre meteoritos e
um café ilegal lá no Norte,
onde se servem caracóis
às seis da tarde.
Ou talvez
(e só talvez)
porque algumas cartas de amor
v-o-a-m como poças lamacentas num dia de sol,
em direção a cidades de vidro
abandonadas por
homens azuis que nunca lá viveram.
Talvez
(e só talvez)
estas palavras sejam
ARRASTADAS como pirilampos
numa linha de comboio,
fabricadas com a água imunda
de um poço
no fim do horizonte ——
usadas para alimentar
aldeias de lobos desdentados
e de sobreiros bravos
em desertos frios,
onde o sol e a lua se ocultam atrás de navios
que naufragam num mar calmo.
Tomás Castello Branco
Acho muito imaginativo e fantástico como aplicas o contraditório!