Os Corpos dos Soldados Mortos
- Igual Ao Resto
- 4 de dez. de 2020
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A 10.000 metros de profundidade (como diria Cesariny),
os gritos e os bramidos
dos soldados mortos em combate
ecoam até este momento,
inalterados pelo tempo.
Errantes e elusivos,
buscam incansavelmente os retratos rasgados por César
e a casa daqueles raros mas preciosos camponeses
que compreendem o seu precipício
e a sua hora de cair.
Almejando talvez a Pérsia talvez Mumbai
são ainda sufocados e oprimidos
como se deles fosse a culpa – e não dos cartógrafos –
que os ministérios estejam sempre em chamas.
Nas sementes dos castanheiros selvagens
é ainda possível escutar as suas últimas e belas palavras de amor:
só sonhos,
só esperança,
só morte, só lama
só amor que nunca viu a luz
que trazem os cisnes quando chega o verão.
É de noite,
quando a solidão dos corpos os eleva à superfície,
que três gatos malhados se sentam
numa janela iluminada
olhando para ti com os seus olhos amarelos
– enquanto no fim da rua toca música árabe –
como quem diz:
A Terra só existe para quem não a pode cantar.
Tomás Castello Branco
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