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Os Corpos dos Soldados Mortos

A 10.000 metros de profundidade (como diria Cesariny),

os gritos e os bramidos

dos soldados mortos em combate

ecoam até este momento,

inalterados pelo tempo.


Errantes e elusivos,

buscam incansavelmente os retratos rasgados por César

e a casa daqueles raros mas preciosos camponeses

que compreendem o seu precipício

e a sua hora de cair.


Almejando talvez a Pérsia talvez Mumbai

são ainda sufocados e oprimidos

como se deles fosse a culpa – e não dos cartógrafos –

que os ministérios estejam sempre em chamas.


Nas sementes dos castanheiros selvagens

é ainda possível escutar as suas últimas e belas palavras de amor:


só sonhos,

só esperança,

só morte, só lama

só amor que nunca viu a luz

que trazem os cisnes quando chega o verão.


É de noite,

quando a solidão dos corpos os eleva à superfície,


que três gatos malhados se sentam

numa janela iluminada

olhando para ti com os seus olhos amarelos

– enquanto no fim da rua toca música árabe –

como quem diz:


A Terra só existe para quem não a pode cantar.


Tomás Castello Branco

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